Por Fabiano Bó, coronel da Polícia Militar, especialista em Política e Estratégia
Secretário de Estado e Chefe da Casa Militar do Amazonas
O Brasil é um país múltiplo, de vastas fronteiras e geografias intensas. Mas é sobre suas águas que se consolida uma das expressões mais estratégicas da soberania nacional. Em territórios onde o acesso exige mais do que intenção política, a presença da Marinha do Brasil representa a continuidade do Estado. Neste 11 de junho, o Dia da Marinha é mais que uma efeméride militar, é a reafirmação de um compromisso vital com o Brasil real.
Nenhuma outra força nacional se insere de maneira tão decisiva nas áreas de fronteira líquida do país. A Marinha do Brasil atua em cenários onde a complexidade não permite improvisos. Do litoral atlântico aos confins fluviais da Amazônia, sua presença não é episódica, é estruturada, permanente e profundamente conectada à realidade dos brasileiros que vivem nas regiões mais distantes dos grandes centros. No Norte, essa presença ganha contornos de protagonismo.
O 9º Distrito Naval, ancorado na Ilha de São Vicente, no Centro de Manaus, e sob o comando do Vice-Almirante João Alberto de Araújo Lampert, sustenta mais que uma arquitetura de defesa. Representa o Estado operando em sua forma mais exigente: logística em larga escala, atuação contínua e conhecimento profundo do terreno humano e ambiental. Não é a floresta que limita a atuação da Marinha, são os rios que a expandem. Onde muitos veem obstáculos, a Marinha enxerga rotas, acesso e missão.
O diferencial estratégico da Marinha não está apenas em seu poder operacional, mas em sua capacidade de traduzir o país. Homens e mulheres de todas as regiões, origens e formações compõem suas fileiras. A diversidade que integra sua estrutura interna é, por si só, um reflexo do Brasil. Servir sob sua bandeira é também afirmar que a defesa nacional só se sustenta quando incorpora a pluralidade do povo que representa.
A atuação no território amazônico vai além do escopo convencional da defesa. Por meio de iniciativas como a Operação Ágata, a Marinha ocupa uma posição singular: mais de 52 mil atendimentos médicos, distribuição de medicamentos, ações de repressão ao garimpo e combate a crimes ambientais evidenciam uma instituição que combina autoridade com serviço. É o braço do Estado que alcança comunidades invisibilidades e reafirma o direito à cidadania.
Essa presença se impõe, ainda, como barreira à expansão das ilegalidades que ameaçam a integridade territorial. A Marinha não tolera a omissão. Enfrenta o tráfico transnacional, a mineração predatória e a exploração criminosa de nossos recursos naturais. O domínio dos rios é, portanto, uma expressão inequívoca da soberania brasileira.
Mais do que estrutura militar, o 9º Distrito Naval é uma engrenagem decisiva para a permanência do Brasil em sua porção mais sensível. Em integração com o Exército e a Força Aérea, constitui um sistema robusto de dissuasão e resposta. Mais do que isso, é um sinal claro de que o Estado está atento, presente e em movimento.
Sendo assim, falar da Marinha é afirmar que o futuro do país não será decidido apenas nas metrópoles ou nas capitais. Ele se desenha também nos rios da Amazônia, nos postos avançados, nas embarcações que operam em silêncio, com técnica, coragem e determinação. Cada missão realizada, cada gesto de atendimento, cada operação de fiscalização é um ato concreto de continuidade nacional.
A Marinha do Brasil, especialmente em sua atuação amazônica, transcende sua natureza militar. É a alma operante de um país que se recusa a ceder espaço, que insiste em permanecer inteiro. Ignorar suas águas seria negar a própria espinha dorsal da soberania nacional.
Neste mês de junho, não se celebra apenas uma Força Armada. Reafirma-se a permanência do Estado onde muitos não chegam, a presença onde o silêncio impera, e a defesa onde o território desafia. Honrar a Marinha é reconhecer que o Brasil só é Brasil quando faz das águas não uma fronteira, mas um eixo de identidade, de autoridade e de continuidade histórica.
Porque proteger nossos rios é afirmar nossa existência. E enquanto houver uma embarcação da Marinha singrando a Amazônia, haverá também um país inteiro afirmando, com firmeza e lucidez, seu compromisso que traduz o lema da instituição: “protegendo nossas riquezas, cuidando da nossa gente”. Aqui é Brasil.