“Etnojornalismo e o Papel dos Eco Comunicadores na Mídia Contemporânea” será o tema abordado pela CENARIUM no 19º Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que começou nessa quinta-feira, 11, e vai até domingo, 14, no campus Álvaro Alvim da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), na Vila Mariana, em São Paulo. A palestra temática da CENARIUM sobre Etnojornalismo acontecerá nesse sábado, 13, no horário de 9h30 às 11h.
O congresso da Abraji é considerado o maior encontro de jornalistas do País e ocorre no formato híbrido, com atividades presenciais, transmissão ao vivo de parte da programação e uma série de conteúdos gravados disponíveis no site oficial do evento.
A presidente da Abraji, a jornalista Kátia Brembatti, analisa que o tema é muito adequado, pois a cobertura que a CENARIUM faz da e para a Amazônia é importante pela perspectiva de um olhar regional, e não de fora. No evento, o veículo de comunicação é representado por profissionais da comunicação ribeirinha, quilombola e indígena, que falam da realidade local.
“A equipe CENARIUM ouve as pessoas que moram nas localidades e que vivem aquelas realidades. Então, acho que a escolha do tema foi acertada e para o público vai ser muito importante, principalmente para os estudantes de jornalismo, porque uma das coisas que a gente espera é que as pessoas aprendam aqui no congresso e descubram como cobrir essas realidades, entendendo quais são as demandas das comunidades locais“, enfatiza.
Brembatti destaca, ainda, que a troca de experiências entre estudantes e profissionais da comunicação também serve para quebrar estereótipos. “Também é necessário olhar por um outro prisma, porque, às vezes, há uma ideia equivocada de que essas pessoas não se comunicam, de que elas não têm telefone, de que elas são ultrapassadas. E não é essa a realidade. Então, assim, saber o que está mesmo acontecendo é o melhor antídoto para a gente não cometer equívocos, não reforçar estereótipos, estigmas, né?“, declarou.
Respeito à diversidade
A diretora-geral da CENARIUM, jornalista Paula Litaiff, destaca a importância da imprensa brasileira entender o etnojornalismo como uma conduta transversal nas pautas jornalísticas produzidas diariamente, com profissionais reportando os saberes e desafios dos povos originários e tradicionais a partir de quem vive a realidade, garantindo uma cobertura jornalística inclusiva e respeitosa em relação às diversidades culturais e étnicas.
“Nossa ideia é reforçar o debate sobre os desafios encontrados pelos profissionais de imprensa para atuar com o etnojornalismo em meio às barreiras econômicas, desafios culturais e linguísticos, além das dificuldades do acesso à tecnologia em áreas mais distantes dos centros urbanos, bem como a capacitação contínua dos jornalistas e comunicadores”, pontuou Litaiff.
Representando a CENARIUM na palestra sobre etnojornalismo estarão quatro profissionais da revista: Adrisa De Góes, Cátia Santos, Lara Marubo e Luciana Santos. Todas profissionais na área de comunicação que atuam diretamente na cobertura, debate e análise de temas relacionados a povos originários e povos tradicionais da região amazônica.
Eco comunicadora e indígena do povo Marubo, Lara é natural do Vale do Javari, localizado no município de Atalaia do Norte, no Amazonas. Foi nessa região que ocorreram os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, em 2022. Lara vai falar, na palestra, sobre os desafios de cobrir as pautas diretamente de comunidades indígenas da região, que fica a 1.287 quilômetros de Manaus, capital do estado.
“Vou abordar a importância da representatividade indígena no meio midiático, uma vez que parte da realidade que vivi como estudante de Jornalismo é essa carência de referências indígenas na comunicação. Pretendo falar também sobre as vivências nas reportagens e apontar a necessidade de quebrar os estereótipos criados pela maioria das mídias tradicionais contra os indígenas”, disse Lara.
Quilombolas e ribeirinhos
Mulher quilombola da cidade de Manaus (AM), outra palestrante da CENARIUM é Luciana Santos, jornalista, advogada, apresentadora do Podcast Diversidade Cenarium. Mestra em Direito pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luciana tem especialização em Direito Público pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e em Africanidades e Cultura Afro-brasileira pela Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp).
“Minha fala trará um pouco da minha experiência como comunicadora preta que busca trabalhar temas que envolvem os direitos humanos numa perspectiva amazônica e crítica, buscando divulgar as falas e conhecimentos de pesquisadores e lideranças locais. Acredito que a comunicação é um instrumento importante na desconstrução do pensamento colonialista que ainda impera em nossa sociedade, perpetuando desigualdades e violências”, declarou Luciana.
Coordenadora de redação da CENARIUM, a jornalista Adrisa de Góes é natural do município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) e atua na elaboração e supervisão de pautas jornalísticas sobre a Amazônia Legal com enfoque nas populações ribeirinhas e indígenas. Para ela, a palestra terá o objetivo de facilitar a troca de experiências e incentivar a reflexão crítica sobre a responsabilidade dos jornalistas na promoção de uma mídia inclusiva e representativa.
“Essa palestra vai contar com a participação de jornalistas e eco comunicadoras que vivenciam a realidade dos povos tradicionais, como extrativistas do Acre, indígenas do Vale do Javari, além de quilombolas e ribeirinhos. A ideia é ressaltar a importância de uma cobertura mais representativa e que valorize a diversidade cultural e étnica”, afirma Adrisa.
Chico Mendes, presente!
Catia Santos é eco comunicadora na CENARIUM, no Estado do Acre, e se dedica ao fortalecimento de comunidades extrativistas da região. É natural da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Estado, e possui graduação em Gestão Ambiental. Atua na coordenação de Mídias Digitais no Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS) e integra o Coletivo Varadouro.
Ela vai abordar o legado do líder seringueiro Chico Mendes, principalmente sobre a importância da criação das Reservas Extrativistas. O CNS foi criado há aproximadamente 40 anos, combatendo irregularidades e atuando para que as populações extrativistas tenham mais qualidade de vida, com geração de renda e valorização da sociobioeconomia.
A eco comunicadora apresentará ainda a rede de comunicadores da floresta, formada por jovens ribeirinhos, indígenas, extrativistas e quilombolas de diversas partes do País. “São jovens que, assim como eu, atuam para defender seus territórios, fazem denúncias contra crimes ambientais e também levam a cultura, educação e ações de suas comunidades. São eles que potencializam a voz dos protetores das florestas”, conclui Cátia.
Com informações da Agência Cenarium