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Natura Musical apresenta: músico trans da Amazônia, Flor de Mururé lança o disco CROA, um manifesto de fé e resistência LGBTQIA+

Todo batuque é uma forma de oração. Em CROA, primeiro disco de Flor de Mururé, a força do tambor também é um manifesto de resistência. Artista transgênero da Amazônia, Flor faz da arte e da fé seu principal instrumento de sobrevivência no país mais transfóbico do mundo. “Eu nunca tinha visto um homem trans no palco. Então quis ser a minha própria referência. Pra mim, o que importa é nosso corpo-território vivo”, diz Flor de Mururé. CROA chegou às plataformas digitais no dia 24 de maio deste ano. O projeto tem patrocínio da Natura Musical e do Governo do Estado via Lei Semear e Fundação Cultural do Pará, com produção executiva da Psica Produções.

CROA já nasce um marco: o disco é, até onde se tem registro, o primeiro trabalho gravado e lançado por uma pessoa trans no norte do Brasil, com recursos e estrutura necessários para se criar uma grande obra da música popular brasileira. Em CROA, Flor traz, de forma única, suas vivências como homem trans e a relação de afeto, cura e aquilombamento de corpos dissidentes através das religiões de matrizes africanas e originárias, que celebram orixás, voduns, guias e caboclos.

No Candomblé e na Umbanda, “croa” está relacionado ao termo “coroa”, que é utilizado para descrever a coroa de um orixá ou entidade espiritual. Para Flor, o disco é uma forma de agradecer às entidades que regem sua cabeça, seu ori. Com sua poesia política e religiosa, CROA traz ritmos como coco, hip hop, guitarrada, pop, carimbó e outras sonoridades amazônicas.

O trabalho deságua do acúmulo de vivências de Flor, que sai de casa muito jovem, ainda aos 16 anos, diante de tensões familiares relacionadas a sua orientação de gênero. Com dez anos de estudo de violão, canto coral, violino e flauta no Conservatório Carlos Gomes, um dos mais tradicionais do Norte, Flor se torna artista de rua nas rodas de carimbó urbano, e passa a pesquisar ritmos ancestrais. No terreiro de Tambor de Mina, encontra a Mãe Rosa de Luyara, uma travesti líder espiritual. “O nosso corpo é marginalizado em todos os lugares e ambientes. A gente não tem espaço nem para o espiritual. Então, quando eu me deparo com a Mãe Rosinha, vejo nela um corpo trans, minha imagem e semelhança. Sinto que ali poderia seguir o meu caminho”, diz.

Como manifesto LGBTQIA+, CROA traz diversos artistas trans que fazem parte do disco: Anastácia Marshelly, Valesca Minaj, Mulambra, Rafaela Kennedy, Rafaela Cardoso, Iris da Selva, Borblue e Isabella Pamplona são alguns dos talentos do projeto, desde concepção, identidade visual ao coral. “São mais de dez artistas trans. E eu quero incluir mais ainda pessoas trans, pra que o mundo nos conheça”, diz Flor.

Time dos sonhos

Foto: divulgação.

CROA faz da música uma oferenda, viaja a diversos terreiros, sobretudo no Pará e Maranhão, e traz a forte percussão do Tambor de Mina para o centro do palco. Irmãos em espiritualidade e sonoridades, os estados se reconectam no disco de Flor. O trabalho, que tem registros em áudio de cerimônias religiosas do Pará e do Maranhão e participações ilustres como Tiganá Santana, Grupo Bongar, Trio Manari e coral de vozes de artistas trans, traz sete faixas com um olhar único para a cultura popular e religiosa da Amazônia.

“O Flor conta uma história muito bonita de superação e de transformação nesse disco maravilhoso, uma coisa muito forte para mostrar para sociedade. Flor tem potencial para ser um grande artista fora do eixo Rio-São Paulo. Eu vejo ele na cena como uma novidade do Norte que revela um novo Pará, cheio de espiritualidade”, celebra André Magalhães, que assina a produção do álbum.

Premiado produtor musical, ao longo de cinco décadas de atividade, André se destacou também como instrumentista e pesquisador, e assinou a produção musical de artistas icônicos da percussão brasileira, como o grupo ABarca, Tiganá Santana, Orquestra Afrosinfônica e Kiko Dinucci – todos nomes que influenciaram Flor na construção de CROA. “Ter o André nesse disco é a realização de um sonho”, comemora Flor.

Outros talentos de diversos locais do Brasil e do mundo se reúnem para erguer CROA. Grande artista baiano, o poeta e violonista Tiganá Santana é uma das maiores estrelas do disco. Lendário grupo da Amazônia, o Trio Manari faz a percussão em quatro faixas do álbum. Manoel Cordeiro, um dos maiores guitar heroes do Brasil, também mostra seus acordes no disco. De Recife, da Nação Xambá, o Grupo Bongar se faz presente em CROA mostrando a relação tecida entre religião de matriz africana, percussão e voz. Suíço radicado no Brasil, Thomas Rohrer toca rabeca em duas faixas. O norte-americano Mitchell Long, que toca violão em CROA, é multi instrumentista e pesquisador da sonoridade criola.

CROA foi selecionado pelo edital Natura Musical, por meio da lei estadual de incentivo à cultura do Pará (Semear), ao lado de nomes como Azuliteral, Daniel ADR, Elas no Comando, Festival Lambateria e Raidol. No Estado, a plataforma já ofereceu recursos para mais de 80 projetos até 2022, em diferentes formatos e estágios de carreira, como Dona Onete, Raidol, Nic Dias e os festivais Mana, Lambateria e Psica.

Sobre Natura Musical

Natura Musical é a plataforma cultural da marca Natura que há 18 anos valoriza a música como um veículo de bem estar e conexão. Desde seu lançamento, em 2005, o programa investiu mais de R$190 milhões no patrocínio de mais de 600 artistas e projetos em todo o Brasil, promovendo experiências musicais que projetam a pluralidade da nossa cultura. Em parcerias com festivais e com a Casa Natura Musical, fomentamos encontros que transformam o mundo. Quer saber mais? Siga a gente nas redes sociais: @naturamusical.

Com informações da assessoria

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